Castelo de Breteuil: entre história e contos de fadas

Hoje eu os levarei a conhecer um castelo de conto de fadas situado às portas de Paris, no Departamento de Yvelines e no Parque Regional de Vale de Chevreuse. Sabe que castelo é esse? É o Castelo de Breteuil. Com uma história incrível, um parque magnífico e um jardim maravilhoso, esse castelo é uma mistura de fantasia e realidade.

Breteuil guarda uma história familiar de quase 400 anos. Construído em 1610, esse castelo é, ainda hoje, a residência do Marquês de Breteuil. O Gato de botas, a Chapéuzinho Vermelho e outros personagens de Charles Perrault, darão as boas-vindas para você neste castelo.

 

Vamos conhecer um pouquinho da história da família de Breteuil

Um dos ancestrais de Breteuil, recebeu de Guilherme, o Conquistador (Guillaume le Conquérant) no século XI, o título de conde de Breteuil. Na Idade Média, os títulos correspondiam aos serviços prestados para o rei. O senhor deveria lutar pelo seu rei e também proteger seus súditos.

Mais tarde, a família Breteuil continuou a servir a Igreja, como bispos, e aos reis da França, como oficiais, embaixadores ou ministros. Os Breteuil foram ministros dos reis Louis XIV, XV e Luís XVI.

Durante a Revolução Francesa, o castelo foi poupado, porque na época, ele era propriedade de uma criança órfã de pai, Charles de Breteuil. No final do século XIX, o neto de Charles, Henri, apaixonado pela propriedade, recriou os jardins de estilo francês, como Le Notre havia feito sob Louis XIV.

Henri frequentemente recebia seu grande amigo, o príncipe de Gales, futuro Edward VII, Rei da Inglaterra. O neto de Henri é o atual marquês de Breteuil, atual proprietário e que ainda hoje vive no castelo.

Fachada do Castelo de Breteuil, lado pátio de honra. Foto (@visitasguiadasemparis

 

Te convido agora a vir comigo descobrir as principais salas dessa luxuosa residência nobre. Em cada sala, veremos personagens de cera que retratam momentos importantes da história da França em que os Breteuil tiveram relação direta.

 

Grande Galeria

A primeira sala que visitamos ao entrar é a grande galeria. Aqui admiramos o retrato do rei Luís XVI. Nesse quadro sobre a lareira, o rei está vestido com o seu costume da coroação. Ele porta o manto real feito de pele de Doninha e inteiramente decorado com a flor-de-lis, o emblema real. Na mão direita o rei tem o cetro, símbolo da sua autoridade. Sob o reinado de Luís XVI, o Barão de Breteuil foi embaixador e ministro, é por isso que o rei está presente nesta sala.

Grande Galeria, no centro o retrato do rei Luís XVI – Foto (@visitasguiadasemparis)

 

Salão Maria Antonieta

Estamos no dia 15 de agosto de 1785. O cardeal de Rohan afirma ter comprado um colar em segredo em nome da Rainha Maria Antonieta. O Cardeal foi enganado, e o colar feito totalmente em diamantes, foi roubado. O rei Luís XVI assina a prisão do cardeal e dá ao Barão de Breteuil, seu então Ministro do Interior. O Cardeal irá para a Bastilha, a prisão de Paris e será o início do famoso “caso do colar”.

Salão de Maria Antonieta – Foto (@visitasguiadasemparis)

 

Vamos observar a moda da época: observe a foto, os homens usavam calções (culotes) e meias. Os mais elegantes colocavam perucas brancas, coletes bordados, camisas brancas com babados e rendas, assim como vemos o rei e seu ministro. A rainha, está vestida com um lindo vestido de corte.

 

Biblioteca

Na biblioteca temos Luís XVIII, irmão mais novo de Luís XVI, o restaurador da monarquia em 1814. Instalado em sua autêntica cadeira de rodas assinada pelo famoso marceneiro Jacob. O rei está aqui no meio de uma discussão com Charles de Breteuil, seu consultor de assuntos estrangeiros e o Duke Decazes, seu primeiro ministro. Observe como a moda mudou muito. Penteados substituíram as perucas e as calças-compridas substituíras os calções e as meias.

Biblioteca. Ȧ direita está Luís XVIII – Foto (@visitasguiadasemparis)

 

A reunião secreta na sala dos fumantes (fumoir)

Na sala de fumantes, você vai entrar na intimidade de uma reunião secreta realizada em 12 de março de 1881 entre Henri de Breteuil (1848-1916), o Príncipe de Gales, o futuro Eduardo VII e Léon Gambetta, grande figura da Terceira República Francesa.

Esta reunião lançou as bases para a Entente Cordiale assinada entre a França e a Inglaterra em 1904. A assinatura da Entente Cordiale marcou o fim de quase um milênio de conflitos intermitentes entre as duas nações e seus Estados antecessores, e a formalização da coexistência pacífica que já existia desde o fim das guerras napoleônicas em 1815.

Reunião realizada em 1881 entre Henri de Breteuil (1848-1916), o Príncipe de Gales e o Ministro Léon Gambetta. Foto (@visitasguiadasemparis)

 

Em relação à moda. Observamos que agora, para homens temos o uso da gravata, os bigodes e também os charutos.

Nessa época, nessas reuniões, era comum compartilhar o tradicional chá britânico e as bebidas alcoólicas que eram conservadas nos recipientes com gelo, chamados de Rafraichissoir. O gelo era comum nos castelos devido a presença das “Glacières” ou Casas de gelo. Tratamos do assunto na parte referente aos jardins.

 

O banheiro

Este banheiro data do século XIX. Na época de sua constituição ainda não havia água corrente no andar de cima. A água, proveniente de um poço localizado no pátio interno do castelo, era colocada em jarros e depois aquecida para o uso na banheira. As banheiras eram de metal e deixavam a água muito quente, por isso, eles tinham o hábito de forrar a banheira com um lençol para evitar se queimar. Como não existiam torneiras e pias, as pessoas usavam jarros, tigelas e faziam banhos de pés.

Tradicional banheiro da época, as jarras para a toilette matinal e a banheira com um lençol para não se queimar. Foto (@visitasguiadasemparis)

Quarto de laca

Por volta de 1900 este quarto já foi ocupado pelo escritor Marcel Proust que era amigo de Henri de Breteuil. Na foto, vemos o escritor sobre a cama de laca de estilo chinês. Ela é cercada por cortinas, é o chamado estilo “baldaquin”. Durante o inverno, a cama aquecida com uma bacia guarnecida com brasas e garrafas de água quente.

Quarto ocupado pelo escritor Marcel Proust por volta de 1900 – Foto (@visitasguiadasemparis)

 

Sala do tesouro

Nessa sala estão guardados alguns dos mais belos tesouros desta residência nobre:

A mesa de Teschen:  presente de Marie-Thérèse, mãe da rainha Maria Antonieta, Imperatriz da Áustria e Rainha da Hungria (foto à direita). Ela queria recompensar o Barão de Breteuil por ter negociado em Teschen (na atual Polônia) em 1779, a paz entre a Áustria e Prússia (antiga Alemanha). Essa mesa, é uma verdadeira joia, é o tesouro do castelo. O tampo está incrustado com 128 variedades de pedras duras e madeira petrificada.

A mesa de Teschen – Foto (@visitasguiadasemparis)

A imperatriz Marie-Thérèse da Austria – Foto (@visitasguiadasemparis)

Abaixo temos a cópia do famoso colar chamado “colar da rainha ”. O original era composto por 647 diamantes.

O colar da rainha, Maria Antonieta – Foto (@visitasguiadasemparis)

 

Quarto de Gabrielle-Emilie de Breteuil

Nascida em 1706, Emilie de Breteuil adorava estudar. Ainda criança ela aprendeu matemática com seus irmãos e se tornou a primeira mulher letrada da nossa história. Casada com o Marquês de Châtelet, ela era grande amiga de Voltaire. Filósofa mulher, ela também amava música, teatro, livros e tapeçaria. O seu apartamento é repleto de lindas poltronas decoradas com fábulas de La Fontaine.

Retrato de  Emilie de Breteuil, mulher intelectual da familia – Foto (@visitasguiadasemparis)

A capela neogótica

A capela neogótica foi construída sob Charles de Breteuil em 1818. Contém muitos tesouros: dois vitrais do século XV que vieram da cripta da catedral de Chartres e um Antependium (antipendio) do século XVII em um excepcional estado de conservação. O antipendio é um elemento decorativo, geralmente feito de linho, bordados de seda ou couro, destinado a decorar a frente do altar.

O vitral à direita mostra São João Batista com o menino Jesus em seus braços representado por um cordeiro. No centro da capela temos uma estátua da Virgem e o Menino.

O altar é decorado com um lindo Antependium do século XVII. Foto (@visitasguiadasemparis)

Belíssimo vitral do século XV – Foto (@visitasguiadasemparis)

 A sala de jantar dos empregados

Representação de um jantar dos empregados – Foto (@visitasguiadasemparis)

Muitos servidores costumavam cuidar da casa. Eles tomavam conta do aquecimento da casa, das velas para a iluminação e depois, das lâmpadas à óleo. Cuidavam também de toda a parte cama, mesa e banho da residência. Todos esses trabalhos eram manuais. A mulher que vemos sentada na extremidade da mesa é uma empregada e o motorista que trouxe o rei Eduardo VII da Inglaterra em 3 de maio 1905

As cozinhas

A Marquesa de Breteuil, avó do atual proprietário, renovou as cozinhas por volta de 1900. Para o cozimento eram utilizadas panelas de cobre e grandes fogões aquecidos com carvão e madeira. Lindos utensílios antigos decoram as cozinhas.

Todas as refeições servidas aos senhores eram feitas ali mesmo nas cozinhas do castelo – Foto (@visitasguiadasemparis)

Lindos utensílios de cobre e porcelana. Na bancada, o Gato de Botas de Charles Perrault – Foto (@visitasguiadasemparis)

O trabalho na cozinha era sempre intenso – Foto (@visitasguiadasemparis)

O pão, desde há muito tempo, é a base da alimentação dos franceses. Aqui, ele é produzido no próprio castelo – Foto (@visitasguiadasemparis)

Tradicional moinho a café de porcelana – Foto (@visitasguiadasemparis)

Tradicional moinho a café de ferro – Foto (@visitasguiadasemparis)

 

Os contos de Charles Perrault

Os contos de Charles Perrault têm valor universal e constituem uma verdadeira herança literária. Oito histórias famosas deste autor do século XVII são encenadas com vinte figuras de cera nas dependências do castelo, outrora lugares da vida cotidiana. Você poderá descobrir O pequeno polegar (Le petit poucet) e seus irmãos que encontraram refúgio na árvore frutífera, conhecer o Chapeuzinho Vermelho na cabeceira de sua estranha avó na casa de bonecas, admirar o travesso Gato de Botas e descobrir o destino lançado por As fadas para as duas irmãs nos estábulos. Voce pode ainda se surpreender com Cinderela vestida com seu magnífico vestido nos estábulos. Você vai ficar cara a cara com o impressionante Barba Azul na sala de caça, vai encontrar a gentil princesa Pele de asno encarregada dos trabalhos mais ingratos do lavadouro.  Você vai também se surpreender ao entrar no quarto da Bela Adormecida.

O Chapéuzinho Vermelho (Le petit Chaperon rouge) à esquerda e A cinderela e o sapatinho de cristal (Cendrillon ou La Petite Pantoufle de Verre). Contos de Perrault de 1697. Fonte: Castelo de Breteuil 

A bela adormecida (La belle au bois dormant) é um conto de 1697 –  Fonte: Castelo de Breteuil

Pele de Asno (Peau d’Âne) é um conto de 1694 – Fonte: Castelo de Breteuil

O pequeno polegar (Le petit poucet) é um conto de Perrault de 1697 – Fonte: Castelo de Breteuil

 

O Gato de Botas (Le Maître chat ou le Chat botté) é um conto de Perrault de 1695.

 

Porque Perrault é representado no castelo?

Essas cenas de Conto não estão ali por acaso. Além de suas qualidades como autor, Charles Perrault (1628-1703) foi um importante homem de Estado, pois administrou as finanças do rei Luís XIV. De 1654 a 1664, ele ocupou o cargo de comissário na administração do Departamento de Receita Geral e finanças, dirigido por seu irmão mais velho Pierre. Foi durante sua carreira que ele conheceu o ministro Louis de Breteuil (1609-1685), que ocupou o cargo de Controlador Geral de Finanças de 20 de outubro de 1657 a 12 de dezembro de 1665 e que precedeu Colbert para esse fim. Desde então, uma estreita relação de colaboração começou entre esses dois homens, é isso que é comemorado no Castelo de Breteuil!

Charles Perrault (1628-1703), escritor francês

O jardim estilo francês

Localizados no coração do Parque Natural do Vale Chevreuse, os jardins da Propriedade de Breteuil são classificados como “jardins notáveis” se estendem por mais de 75 hectares. Cuidadosamente mantidos, eles são o local ideal para caminhadas.

O jardim francês está localizado em ambos os lados do castelo, posicionado no eixo norte-sul. Foi no final do século XIX que ganhou todo o seu esplendor. Henri de Breteuil, oitavo marquês da família e avô do atual marquês de Breteuil, realizou entre 1897 e 1903 uma ambiciosa campanha de trabalho confiada aos arquitetos paisagistas Henri e Achille Duchêne. Este último estabeleceu grandes perspectivas, em particular graças ao desenvolvimento de uma bacia chamada espelho d’água no lado norte, que domina o vale de Chevreuse. Eles embelezam gramados e caminhos, criam jardins de bordados de buxo no lado sul, um mosaico de buxo e topiarias de bolas ou pirâmides truncadas no lado norte.

O jardim francês e sua piscina refletora – Foto (@visitasguiadasemparis)

Um tapete verde decora o parque de estilo francês – Foto (@visitasguiadasemparis)

Aspecto arquitetural do lado dos jardins – Foto (@visitasguiadasemparis)

A arquitetura tradicional da época é o tijolo à vista – Foto (@visitasguiadasemparis)

 

Os Duchenes fazem parte da tradição de André Le Nôtre, o grande jardineiro do Palácio de Versalhes. Esse renascimento do estilo clássico é sutilmente integrado à estrutura existente no local.

O Pombal

Os pombais eram comuns nas residências nobres – Foto (@visitasguiadasemparis)

Vista do pombal à partir dos jardins à la française – Foto (@visitasguiadasemparis)

O pombal é o único vestígio dos tempos medievais. Era um recurso econômico importante porque coletava colombina, um fertilizante muito fértil. Hoje, neste pombal maravilhosamente restaurado, os visitantes podem descobrir a exposição “Breteuil à table”. Uma dúzia de grandes pinturas na história da arte, apresentando cenas de refeições.

 

O Jardim dos Príncipes

O jardim inglês chamado “jardim dos príncipes” é assim nomeado em homenagem à amizade entre a família Breteuil e a família real inglesa.  A restauração desse jardim começou em 1991. Ele é maravilhosamente rico em árvores frutíferas, palmeiras e cerejeiras japonesas que completam o cenário.

Esse é o primeiro jardim que eu passeei quando visitei o castelo. Tem um charme campestre sem igual. É decorado com lindos bancos brancos, têm muitas flores e passagens românticas.

Passarela no bucólico Jardim Inglês – Foto (@visitasguiadasemparis)

Uma grande variedade de flores estão presentes no jardim inglês – Foto (@visitasguiadasemparis)

Banquinhos charmosos nos convidam ao descanso em meio à natureza – Foto (@visitasguiadasemparis)

Um parque que exala o romantismo

O domínio Breteuil cobre 75 hectares. Permite aos visitantes caminhar e recarregar suas baterias no coração da natureza, a apenas 20 km de Versalhes e a 35 km de Paris. Em Ile-de-France, é raro encontrar uma diversidade de ambientes naturais no mesmo local.

Os visitantes podem descobrir a misteriosa vegetação rasteira com seus canteiros de ciclâmen selvagem do final de agosto a meados de outubro.

Caminhar em meio à mata nativa do Parque do castelo é uma experiência maravilhosa  – Foto (@visitasguiadasemparis)

Admirar caminhos forrados de flores é fenomenal!! Foto (@visitasguiadasemparis)

Árvores notáveis ​​também pontuam os caminhos destinados à caminhada. Espécimes excepcionais como o cedro do Líbano, datado da época de Maria Antonieta, carvalhos de trezentos anos, castanheiros da época de Henrique IV, ciprestes, entre outras podem ser admirados.

Para os que gostam de caminhadas, os lagos românticos na parte mais baixa da propriedade, cujas primeiras instalações datam da época de Napoleão III, valem o desvio. Os amantes da natureza se apaixonam pela calma e beleza do lugar.

 

As fotos mostram o lindo lago do parque. Aqui até parece que o tempo parou!!

 

Glacière ou Casas de Gelo

Numa época em que o mundo está mudando tão rapidamente, às vezes vemos na paisagem alguns vestígios de um passado não tão distante. É o caso dessas casas de gelo que deixaram de ser úteis com a chegada das primeiras geladeiras. Ainda podemos observar algumas delas bem preservados na região parisiense e mais particularmente em castelos.

 

Em Breteuil existem muitas animações para as crianças: caminhos decorados com os Contos de Perrault, playground, escorregadores no meio de árvores de vários séculos. Existe ainda áreas para piqueniques, um kiosque para os que querem comer algo rápido no local.

Quiosque para compra de lanches no local e área recreativa para crianças – Foto (@visitasguiadasemparis)

Depois do passeio é hora do piquenique 🙂    Foto (@visitasguiadasemparis)

 

Entre em em contato conosco  que organizamos a sua visita ao Castelo de Breteuil,  no Parque Natural do Vale de Chevreuse.

Em cada estação você vai admirar uma beleza diferente.

 

Texto: Andréa R. S. Faugeras

Fotos: François Faugeras para  @visitasguiadasemparis

Fonte:

Visita pessoal do Castelo de Chevreuil.

Material publicitário do castelo.

Sites consultados:

http://www.breteuil.fr/

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