A abadia real de Royaumont e seus jardins

Em um domingo de verão eu decidi ir conhecer a famosa Abadia real de Royaumont. É importante saber que Royaumont é a maior abadia cisterciense localizada em Ile de France, a Região Parisiense. Ela está situada entre lagoas e florestas do Parque Regional Oise-Pays de France, no Vale do Rio Oise e não longe dali estão os Lagos de Comelles e o Castelo de Chantilly. Você pode aproveitar para ver esses três grandes sítios remarcáveis em um mesmo dia.

_DSC6812 (Medium)Vista Frontal da abadia.

_DSC6820 (Medium)Os patos são muitos por aqui.

Um pouquinho de sua história

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A Abadia Royaumont foi fundada em 1228 por Louis IX – o futuro São Luís – com o apoio de sua mãe Branca de Castela. Ricamente decorada pelo rei que gostava de se repousar ali, a abadia conheceu uma grande influência no o século XIII. Desde 1246, ela foi dotada de um “Studium Theologiae”, dedicado à formação teológica dos monges, sob a responsabilidade do Dominicano Vincent de Beauvais.

Vincent-de-Beauvais

Tutor das crianças reais, Vincent de Beauvais foi também o autor de conhecimento enciclopédico medieval. Ele escreveu a famosa Enciclopédia “Speculum Maius”, uma vasta compilação de conhecimentos da Idade Média que foi realizada com a ajuda dos monges de Royaumont.

Enfraquecida pela Guerra dos Cem Anos e as fomes da Idade Média, a abadia se debilita ainda mais, no século XVI, com a intrusão dos abades laicos muitas vezes mais preocupado com os prazeres mundanos que com a espiritualidade. Nesse contexto, em 17 de março de 1635, esses abades laicos organizaram em Royaumont o ballet “Le Merlaison”, criado e representado pelo rei Luís XIII, sobre o tema da caça ao pássaro Melro-preto ou Mérula.

Em 1790, Royaumont foi declarada um “patrimônio nacional”, contava na época com apenas dez monges. Seu novo proprietário transformou-a em uma fábrica de algodão, destruindo a igreja cujos materiais foram utilizados principalmente na construção de uma vila para os trabalhadores.

Na década de 1830, apesar desta atividade industrial, o povoado de Royaumont tornou-se um refúgio da aristocracia e da grande burguesia parisiense, atraídos por suas ruínas românticas e pela floresta.  A fábrica faliu e foi fechada em 1859.

A abadia recuperou a sua vocação original e, em 1869 passou a acolher as freiras da Sagrada Família de Bordeaux, que se comprometeram a restaurá-la no estilo neogótico. Em seguida, o convento foi adquirido pelo industrial francês Jules Goüin que a transformou em uma residência de campo.

Nos anos de 1930, seu filho Henry Goüin e sua esposa, decidiram abrir as portas de Royaumont aos artistas e intelectuais carentes, possibilitando-os um local agradável e de beleza ímpar para trabalhar e criar. Vinte e seis anos depois, em 1964, o projeto se tornou permanente com a criação da Fundação Royaumont para o progresso das Ciências Humanas.

Assim, depois de ter sido um mosteiro, uma aldeia fábrica e um convento, a abadia se tornou no decorrer do século XX, um lugar de encontro e de trocas entre intelectuais franceses e estrangeiros, nas áreas de ciências humanas e da música. Royaumont se impõe como um grande centro de pesquisa, formação e produção artística reconhecida internacionalmente.

A abadia também abre as suas portas aos visitantes do mundo todo 365 dias por ano, das 10 às 17h30 (18h de marco-outubro).

Conhecendo o interior da abadia 

O Claustro e seu jardim

_DSC6968 (Medium)Os jardins do Claustro.

_DSC6971 (Medium)Os jardins do Claustro.

O Claustro é um pátio interior rodeado por galerias com arcadas que servia como local de meditação e circulação dos monges. No centro encontram-se os jardins. A partir do claustro pode-se aceder a outras extensões do conjunto monástico, como a sacristia, a cozinha o refeitório, etc.

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Os jardins do claustro eram geralmente constituídos de plantas medicinais e ervas aromáticas ou flores (lírios, íris amarelas e rosas selvagens) ou permanecciam nus, cobertos com terra batida. A água sempre foi muito importante, ela era muitas vezes encontrada no centro dos claustros. Na verdade, ela era propícia à meditação e sugeria os rios do Paraíso. Mas não sabemos nada do jardim do claustro da Abadia de Royaumont na Idade Média. 

As cozinhas

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Elas comunicavam ao sul com um prédio hoje desaparecido, as despensas ou salas de mantimentos. Estes espaços exerciam uma grande importância pois as abadias nessa época eram responsáveis por grandes áreas de exploração agrícola.

O pão constitua a base da alimentação, juntamente com os legumes, ovos, peixes e o vinho. Somente os doentes podiam consumir a carne. Os irmãos leigos que se ocupavam da exploração das terras agrícolas, faziam refeições mais copiosas, pois realizavam trabalhos duros. Os monges pegavam seus pratos e uma espécie de passa-pratos e se serviam eles mesmos nas mesas.

A arquitetura maciça da cozinha testemunha sua função utilitária, mas elas foram renovadas no decorrer dos séculos.

O refeitório dos monges

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_DSC6873 (Medium)Porta que liga o refeitório dos monges à cozinha.

A elegância desta sala e a estrutura aérea da sua arquitetura recorda a função litúrgica da refeição entre os monges cistercienses. Na verdade, a lectio divina ou leitura divina era empregada durante séculos para designar a leitura meditativa da bíblia. Trata-se de saborear os escritos bíblicos para que estes alimentem a fé do leitor. Os religiosos comiam em silêncio nessa sala. Hoje, repertórios musicais variados ressoam regularmente no que se tornou a maior sala de concertos e recepções da abadia.

O refeitório des “frères convers” ou “irmãos leigos”

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Construído no século XIII, este antigo refeitório constituía, com a sala dos mantimentos ao norte e o dormitório no andar de cima, um conjunto dedicado aos irmãos leigos. Os irmãos leigos eram religiosos de pleno direito, mas não eram monges. Nas ordens monásticas eles eram destinados à exploração das áreas agrícolas e das áreas vinícolas. Em termos de hierarquia, estavam em um nível abaixo dos monges.

Sucessivamente dormitório, cantina, sala de teatro e de baile na época industrial, esta sala foi restaurada já em 1869. Ela também contém um púlpito de leitura. Durante a Primeira Guerra esta sala serviu de hospital da Cruz Vermelha.

A Sacristia

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Estava sobre a responsabilidade do sacristão, aquele que era responsável da organização das atividades eclesiásticas. Ela abrigava também os livros da Abadia quando a biblioteca te tornou pequena. Hoje ela é um pequeno museu que conserva esculturas, tapeçarias, livros, documentos da abadia e outros.

A torre da antiga igreja

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Essa torre de quase 40 metros de altura foi salva da destruição.

Neste espaço hoje vazio se elevava até 1792, o edifício mais imponente do monastério. De fato, com uma nave de 106 metros de comprimento e uma altura das abóbadas de quase 28 metros, a as dimensões da abadia de Royaumont quase alcançou as dimensões da Catedral de Soissons.

Construída entre 1228 e 1235, foi desmantelado durante a Revolução para servir como uma pedreira. Tudo o que resta hoje é uma torre e sua escada, de 36 metros de altura.

No coro da igreja foram enterradas quatro filhos de Louis IX e três outros membros da família real, revelando o compromisso do rei para com a abadia. Em agosto de 1791, as efígies principescas foram transferidas para a Basílica de Saint-Denis, enquanto outros monumentos funerários estão preservados no Museu de Cluny e do Louvre, em Paris.

Três jardins e um parque

Instalado em 7 hectares, no coração do Parque Natural Regional do Oise – Pays de France, o parque da Abadia de Royaumont é irrigado por uma importante rede de canais. Um dos canais atravessa um dos raros exemplos de imóvel de latrinas conservado na França.

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Em seguida, temos o jardim do Claustro de inspiração francesa.

O jardim de 9 canteiros

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Esse jardim não é uma reconstituição de um jardim cistercienses o qual não existe traços hoje. Reagrupando os conhecimentos que se têm hoje sobre os jardins medievais, o paisagista Olivier Damée desenhou 9 canteiros de culturas misturando plantas ornamentais e hortícolas. O jardim é um espaço vivo e evolutivo, concebido como um laboratório de observação de plantas.

Por último há ainda a horta-jardim aberta em 2014 que concilia uma estrutura tradicional e um modo de produção experimental.

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Não deixe de visitar essa abadia real, obra-prima da arquitetura gótica.

Texto: Andréa Rodrigues dos Santos Faugeras

Fotos: François Faugeras

Fonte: Flyer informativo da Abadia de Royaumont

Visita de estudo na Abadia de Royaumont dia 30/07/2017

https://www.royaumont.com/

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