Picasso azul e rosa

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O Museu de Orsay e o Museu Nacional Picasso-Paris se associam para revisitar de maneira inédita o trabalho de Picasso entre os anos de 1900 e 1906. A exposição é uma maneira de fazer as ligações entre os períodos conhecidos como “azul” e “rosa” muitas vezes dissociados.

Pablo Picasso em 1912

 

Pablo Ruiz nasceu em Málaga em 25 de outubro de 1881, filho de um professor de arte. Mais tarde, adotou o nome de solteira de sua mãe, Picasso. Ele cresceu em Barcelona, mostrando talentos artísticos em tenra idade. No início de 1900, ele se mudou entre a França e a Espanha antes de finalmente se instalar em Paris em 1904. Lá ele experimentou vários estilos e produziu os seus próprios originais, refletidos em seus períodos “Azul” e “Rosa”.

 

Em direção ao azul

Picasso chega na Estação de Orsay em Paris em 1900. Com a idade de 18 anos ele já é muito seguro de si mesmo, como atesta o seu autorretrato Yo Picasso (1901), em que vemos as influências das obras de mestres clássicos.

Como outros artistas de sua geração, o jovem pintor foi um grande admirador de Van Gogh, como demonstrado no Autorretrato em azul intenso (pintado no final de 1901), com pinceladas de cores puras.

 

De 1900 a 1904 o jovem Picasso vive entre a capital e seu país natal, principalmente em Barcelona. Ele se nutre dos trabalhos de Ramon Casas e de Santiago Rusiñol. Ele frequenta assiduamente “Els Quatre Gats”, um cabaré boêmio em Barcelona onde Picasso organiza a sua primeira exposição.

Em Paris, o jovem artista expõe, no verão de 1901 na Galeria de Ambroise Vollard, um dos galeristas mais reputados da capital. Entre os quadros exibidos nessa exposição estavam (na ordem das imagens) La Buveuse d’absinthe (1901), L’Attente (Margot), 1901, Gustave Coquiot entre outras.

A figura do arlequim aparece no seu universo pictórico, só ou acompanhado e de olhar ausente. O tom azulado do Arlequim sentado (1901) deixa a cena ainda mais pesada.

Em O quarto azul (1901) a decoração dos Cafés representada na gravura na parede, lembra Degas, Manet e Toulouse-Lautrec.

Juntamente com essas imagens melancólicas, Picasso dá uma atenção especial às cenas do cotidiano Femme à la toilette (1901) assim como ao mundo da infância com A criança com o pombo (1901).

Ele revelará a Pierre Daix que a escolha de pintar com os tons azuis veio “pensando em Casagemas”, um amigo próximo que se suicidou por despeito amoroso, em Paris, em fevereiro de 1901. Os retratos feitos por Picasso mostram como ele foi tocado por esse drama. O azul oferece às imagens uma tonalidade fria e mortífera.

O amigo Casagemas morto

 

Os azuis do abismo

A cor conserva essa carga de angústia nas telas realizadas entre Paris e Barcelona de 1901 a 1902. São figuras de mulheres aflitas, prostradas, morrendo, entre as quais as detentas da prisão de Saint-Lazare que o artista visitou muitas vezes. A anatomia de Pierreuses au bar ou Prostitutas no bar (1902) mostram uma inspiração em Rodin e Gauguim. A evocação da miséria, mulheres e homens gritando ou implorando o céu, personagens diminuídos como A refeição do cego (1903) continuam a preencher as telas azuis. Marcada pela idade, a Celestina (1904), figura da prostituição Barcelonesa, torna-se um ícone decadente deste período inquieto do artista.

Prostitutas no bar

 

Em contraposto, este mundo da noite inspira desenhos eróticos de tinta, lápis ou aquarelas, há muito tempo desconhecidos.

A Vida, obra emblemática de 1903, leva a entender este ciclo natural e trágico que leva do nascimento à morte, representada pela mulher agachada do segundo plano.

A Vida

 

Do rosa ao ocre

A partir de 1904, os motivos e o estilo de Picasso se modificam dos a influência dos escritores e artistas que frequentam o Bateau-Lavoir, em Montmartre, o seu novo atelier. Max Jacob e Guillaume Apollinaire compartilham com o jovem artista o seu olhar sobre o mundo. Na porta do seu atelier ele escreve “Au rendez-vous des poètes” ou “No encontro dos poetas”.

A evolução da sua paleta em direção ao rosa coincide com uma sensibilidade renovada.

As mulheres continuam o seu motivo preferido. Muitas vezes as amigas ou as companheiras como a amante Madeleine que ele fez muitos retratos.

Fillete au panier de fleurs (1905) representa um nu enigmático, o de uma adolescente, uma jovem prostituta de Montmartre. A monumentalidade do corpo da adolescente foi influência da sua viagem aos Países-Baixos.

Fillete au panier de fleurs (1905)

 

A série de acrobatas se nutre dessas evoluções. Para ele não interessa as luzes do espetáculo, mas os momentos de dúvida, de introspecção de intimidade entre os personagens fora das representações. O contraste entre suas faces meditativas e a exuberância dos costumes criam uma atmosfera estranha, acentuada pela coabitação entre o azul e o rosa. Familia de acrobatas com um macaco (1905) apresenta uma composição melancólica e Acrobata sobre a bola (1905) mostra dois personagens com olhares vagos e sem nenhuma comunicação.

Em estudo para Os dois irmãos (1906) a presença do tambor evoca o mundo do circo. A decoração é sóbria e as figuras são pesadas. Esse novo estilo do artista é devido a sua descoberta de Ingres e de sua estadia em Gósol, um vilarejo dos Pirineus onde ele conhece a escultura medieval.

Os dois irmãos

A influência da estatuária grega e de Rodin é vista em Líder do cavalo nu (1905-1906) esse retorno ao classicismo é aparente.

De Cezane, Picasso empresta o gosto pela geometria que se manifesta no final do ano de 1906. Nos rostos de O penteado (1906) rostos são retrabalhados para ter um aspecto de máscaras. O corpo feminino agora está de acordo com a lógica de uma simplificação assumida, bem visível em Nu sobre um fundo vermelho (1906) que anuncia a revolução cubista que viria com a ousadia de Demoiselles d’Avignon (1907) alguns meses mais tarde.

O penteado
Nu sobre um fundo vermelho

Se você quiser ver alguns dos mais lindos quadros de Picasso dos períodos azul e rosa, reserve a nossa visita no Museu de Orsay.

Fonte:

Picasso bleu et rose. Musée d’Orsay. Hors Série de l’Objet d’Art, 2018.

Picasso bleu et rose. Musée d’Orsay. Exposition temporaire de 18 set – 06 Janeiro, 2018.

Texto e fotos: Andréa Rodrigues

 

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