Moret-sur-Loing foi no passado a fronteira entre o Ducado da Borgonha e o reino da França. A cidade foi, durante três séculos, produzida e fortificada pelos reis da Dinastia Capetiana: Luis VI, VII e Felipe Augusto.
A Praça real, as muralhas e a fortaleza (Donjon em francês) dessa época, têm características medievais e estruturam toda a arquitetura da cidade velha. Dos 1356 metros de muralhas e das 20 torres originais, já não restam mais muita coisa. No entanto, o urbanismo da área central e as duas torres que marcam as entradas principais, testemunham muito bem esse passado medieval.
Essa cidadezinha banhada pelas águas do Rio Loing, foi e é muito propícia à inspiração dos pintores. Desde que o pintor impressionista Alfred Sisley e seus amigos descobriram Moret, muitos artistas instalaram seus cavaletes ali.
É essa cidade cheia de história, de charme e com monumentos incríveis que eu quero mostrar para vocês.
Moret-sur-Loing, Alfred Sisley, 1891, Private collection (Foto: https://commons.wikimedia.org/)
Uma cidade medieval fortificada
Em 1081 o rei da França Felipe I obtém a cidade de Moret do duque da Borgonha em troca de moinhos e feudos (terras de nobres) em Montereau (hoje cidade situada a 12 km de Moret). Moret se transforma em um ponto estratégico na fronteira do domínio dos reis Capetianos.
Foi somente no século XII com o Rei Felipe Augusto que Moret recebe as fortificações defensivas. Compreendendo uma muralha pontuada com vinte torres, três portas, quatro Poternas (portas secundárias, dissimuladas nas muralhas) e um castelo.
Vista geral de Moret-sur-Loing. Ilustração feita no final do século XVII. Vemos a cidade cercada com suas muralhas, a igreja (D), o castelo (E), as torres e as entradas principais (A e C). A letra G indica o local onde se cobravam o pedagio para a entrada na cidade.
Sua situação geográfica é muito importante pois a cidade é banhada pelas águas do Loing, pequeno rio que deságua no Sena, via navegável muito importante para as trocas comerciais. Juntamente com isso, a cidade é atravessada pela estrada que liga Paris à Borgonha. Uma ponte é construída no final do século XII, assim como uma fortificação abrigando uma espécie de pedágio para o pagamento das taxas sob as mercadorias transportadas.
As fotos mostram a ponte sobre o Rio Loing. Podemos avistar a Porta da Borgonha, a igreja e alguns dos antigos moinhos existentes no burgo. (Fotos @visitasguiadasemparis)
Após o século XV, a cidade perde o seu papel de fronteira, mas continua sendo parte do domínio real e uma residência muito frequentada pelos reis, apesar da proximidade com Fontainebleau. Henrique IV frequenta várias vezes Moret ao encontro de uma de suas amantes, que reside no Castelo.
Chegando em Moret vindo de Paris, nós entramos na cidade pela Porta de Samois.
A Porta de Samois
Essa torre porta é uma das três portas construídas na Idade Média que dá acesso ao burgo. Ela é uma réplica da Porta da Borgonha situada na outra extremidade da Rua Grande e que dá acesso à ponte. Ela foi construída durante o reino de Felipe Augusto no século XII. Infelizmente já não existe mais os vestígios da ponte levadiça, característico da arquitetura militar da época.
Nos ângulos, vemos duas guaritas salientes (como se fossem torres mais estreitas), elas eram usadas para a segurança. Do lado interno à cidade, um nicho abriga uma estátua da virgem, datando de 1556.
Porta de Samois, uma das entradas principais da cidade (Foto @visitasguiadasemparis)
Ao atravessar a Porta de Samois, entramos no antigo burgo.
Caminhamos pela rua principal até chegar na Praça central da Prefeitura Municipal.
A Praça do Hotel de Ville
Os edifícios dessa praça datam do início do século XX, eles representam os vestígios antigos de aspecto medieval do século XII. As casas em enxaimel são obras de carpinteiros locais da época. Essa que está situada no ângulo da praça, era a residência do mestre de obras, Pierre Raccolet. A decoração externa dessa residência, mostra os artesãos locais no trabalho.
Palacete do escultor Pierre Raccolet, residência do século XX no estilo neogotico (Foto @visitasguiadasemparis)
Antiga casa Clement, atual Sede da Prefeitura
Casa de estilo neogótico construída em 1908 pelo arquiteto Paul-Joseph Clément para a sua própria família. A decoração em madeira, esculpida por Pierre Raccolet, foi concluída por volta de 1931. A casa foi comprada pela cidade de Moret-sur-Loing em 1948 e transformada na Prefeitura Municipal.
Prefeitura Municipal de Moret-sur-Loing, construção do século XX no estilo neogótico
Atrás do monumento aos mortos, estava o Convento dos Beneditinos fundado em 1638 pela Contesa de Moret Jacqueline de Bueil, amante do Rei Henrique IV. A lembrança do seu local é assinalada por uma placa indicativa. A irmã Louise Marie de Sainte-Thérèse, conhecida como a « Mauresse de Moret » viveu nesse convento. Ela era uma religiosa negra, objeto de atenção da família Real. Os boatos da época diziam que ela poderia ter sido uma filha bastarda de Luis XIV, do tempo que este havia se encontrado com uma mulher negra. Há ainda muitos estudos sobre esse assunto.
Grande Rua e Praça do Hôtel de Ville, Moret-sur-Loing (Foto @visitasguiadasemparis)
Casa conhecida como Maison François I ou Hôtel de Chabouillé
Situada no pátio da prefeitura, esta fachada vem de uma galeria que adornava a casa de Nicolas Chabouillé, diretor financeiro do Rei Francisco I. Acima da porta, à esquerda, uma salamandra, emblema do rei, mostra a lealdade do oficial ao seu soberano.
Observe a composição desta fachada e sua decoração exuberante de inspiração italiana. Contrasta com as obras do primeiro Renascimento em Ile-de-France, geralmente de aparência mais discreta.
Ao longo dos séculos, o edifício foi transformado por seus sucessivos proprietários. Em 1822, foi adquirida pelo Coronel de Brack, que teve a ideia de transferir somente a fachada para Paris, pedra por pedra. Ela foi então, adaptada a um novo edifício.
Maison François I ou Hôtel de Chabouillé, estilo Renascimento
Igreja Notre-Dame-de-la-Nativité
Ao continuar a nossa descoberta do vilarejo chegamos até a Igreja Notre-Dame-de-la-Nativité. Sua construção começou no século XIII e terminou por volta do final do século XV. Ela tem uma composição simples e austera para o seu estilo gótico. No centro do seu portal principal, vemos uma estátua da virgem com o menino Jesus, pois a igreja é dedicada à Nossa Senhora da Natividade. A decoração do portal é do estilo Gótico Flamboyant.
A igreja Notre-Dame-de-la-Nativité hoje e na época do pintor Alfred Sisley. A imagem à direita mostra um quadro pintado pelo artista em 1894.
Detalhes arquiteturais da fachada oeste (Fotos @visitasguiadasemparis)
Ao entrar, ficamos deslumbrados com a riqueza arquitetural. A nave central é bem elevada e no altar litúrgico, a parte mais antiga da igreja, a presença dos vitrais mostra a preocupação de trazer mais luz no interior do edifício. As pias batismais são de origem e o órgão, estilo renascimento, está entre os mais antigos da França.
Vista da nave central da Igreja Notre-Dame-de-la-Nativité (Foto @visitasguiadasemparis)
Saindo da Igreja podemos admirar a A casa do Bom Santiago
Essa casa é uma construção do século XV, cuja fachada preservou seu aspecto original. O nome é devido à figura de Santiago de Compostela, esculpida na coluna que faz ângulo com a fachada frontal e a parede lateral direita. A casa abriga desde o século XX, o comércio do « sucre d’orge » « bala de cevada », inventado pelos Beneditinos do Convento de Moret em 1638, para combater dores de garganta.
Detalhes esculpidos em madeira na Casa do Bom Santiago (Fotos @visitasguiadasemparis)
Sucre d’orge ou balas de cevada, inventado pelos Beneditinos do Convento de Moret em 1638.
Continuamos nossa descoberta, não longe da igreja está a casa do Pintor Alfred Sisley. Pintor impressionista, amigo de Monet e Renoir, Alfred Sisley (1839-1899) pintou, ao longo de sua carreira, quase exclusivamente paisagens. Seu estilo foi marcado pela representação dos efeitos da transparência e dos reflexos de luz. Sua busca incessante por paisagens em que ele pudesse expressar sua arte, o levou às margens dos rios Sena e do Loing.
Rua onde esta a casa do pintor Sisley (Foto @visitasguiadasemparis)
Rua onde esta a casa do pintor Sisley (Foto @visitasguiadasemparis)
Casa do pintor Alfred Sisley (Foto @visitasguiadasemparis)
Sisley deixou seu aprendizado acadêmico em Paris muito cedo e escolheu ir viver próximo à a natureza para pintar. Depois de Chailly-en-Bière e Barbizon, ele se estabeleceu em Moret-sur-Loing, onde viveu os 10 últimos anos de vida. As paisagens das margens do Loing, a cidade de Moret e seus arredores inspiraram todo o trabalho do artista. Em Moret, podemos conhecer externamente a casa onde o artista viveu e caminhar pelos locais imortalizados em suas pinturas.
O castelo, torre de defesa
Único vestígio do Castelo real e senhorial, o Donjon marca fortemente a paisagem e simboliza o poder do rei. Essa residência senhorial foi construída no século XII sob o reinado de Luís VI, em seguida, por Luís VII que apreciava particularmente Moret.
A residência comportava três níveis: um térreo pouco iluminado, o primeiro andar residencial e um segundo andar comportando as funções defensivas.
A partir do século XIV a torre foi transformada em prisão do Estado, Nicolas Fouquet, o superintendente de Finanças de Luís XIV foi um famoso prisioneiro ali. No século XVI os reis decidiram alugá-lo a terceiros. Entre os locatários mais famosos tivemos Maximilien de Béthune, Ministro das finanças de Henrique IV. A Princesa polonesa Maria Leczinska passou uma noite no castelo antes de seu casamento com Luís XV celebrado em Fontainebleau, não muito longe dali.
Depois da Revolução Francesa o edifício foi vendido como bem nacional. Em 1879 passou por uma grande campanha de restauração. Naquele momento, elementos da arquitetura antiga foram recuperados e utilizados na decoração do edifício, como a rosácea de uma antiga igreja em ruinas.
Hoje, o castelo é uma residência familiar privada. Ele é alugado para eventos familiares e de empresas, assim como para filmagens de filmes e programas televisivos. Eles recebem também como hospedagem domiciliar no estilo bed&breakfast.
Este edifício combina a arquitetura do século XII com o estilo neogótico, integrando-se perfeitamente na cidade.
Castelo senhorial e real de Moret-sur-Loing, século XII (Fotos @visitasguiadasemparis)
Na fachada do castelo, vista da rosácea de uma antiga igreja em ruinas, acrescentada no século XIX. (Foto @visitasguiadasemparis)
Agora vamos cruzar a Porta de Borgonha para descobrirmos o outro lado de Moret. Imediatamente ao cruzar a ponte, você vai se deparar com uma construção de charme situada praticamente sob a torre. É a Creperia La Poterne. Ali você pode degustar de olhos fechados os deliciosas crepes e galetes. Mas não feche demais os olhos pois você precisa apreciar a vista que é maravilhosa. O restaurante tem vista para o Rio Loing!
Creperia La Poterne, vista para o Rio Loing. (Foto @visitasguiadasemparis)
Vista da Creperia La Poterne. Uma cozinha simples, familiar e deliciosa! (Foto @visitasguiadasemparis)
Creperia La Poterne. Uma cozinha simples, familiar e deliciosa! (Foto @visitasguiadasemparis)
Aqui, crepes e galettes adquirem ares de nobreza (Foto @visitasguiadasemparis)
Galete tradicional acompanhada de uma boa Cidra (Foto @visitasguiadasemparis)
Crepe de banana, chocolate e chantilly (Foto @visitasguiadasemparis)
Porta de Borgonha
Esta porta monumental do final do século XII é composta por duas paredes laterais bem espessas, enquadrando a passagem das charretes. Na época medieval essa porta ficava fechada por uma grade de madeira para evitar o ataque do inimigo. A torre era protegida dia e noite. Os vãos visíveis em sua extensão, permitia a passagem dos projéteis. Internamente existe uma grande escadaria que distribui os diferentes andares. O segundo andar desde o século XVII foi prisão.
Porta da Borgonha, situada em uma das extremidades do burgo. Essa torre-porta do século XII, permitia a segurança do burgo. (Foto @visitasguiadasemparis)
A Porta Poterne (Porta Poterna ou porta secundária) e a ponte
A Porta Poterna era a porta de acesso ao Rio Loing que permitia a passagem das carroças e das tropas que iam beber água no rio. Assim como as outras portas da cidade, essa porta poterna era fechada à noite e era protegida por um vão acima, onde os guardas podiam jogar verticalmente projéteis ou água quente no inimigo.
Próximo ao primeiro arco da ponte, existe uma porta poterna de serviço, menor e destinada aos pedestres, ela dava acesso ao cais das lavadoras. Outras pequenas portas poternas estavam presentes na extensão dos antigos muros.
A pequena porta discretamente integrada na muralha, permitia que os habitantes do burgo saíssem ou retornassem sem o conhecimento do ocupante. (Foto @visitasguiadasemparis)
Em relação à ponte podemos dizer que uma primeira ponte de pedra foi construída no final do século XII, porém esta que avistamos hoje já é uma construção mais recente para facilitar a intensa circulação.
A Ponte de Moret, Alfred Sisley, 1893 (Musée d’Orsay)
Os Moinhos
Moret ocupa uma posição estratégica: está situada na rota entre Paris e Sens (Borgonha). A cidade possui uma via de navegação e uma importante potência energética em relação à água. Desde o século XII nós temos a presença dos moinhos em Moret, graças à presença da ponte que serviu de suporte à sua instalação.
Diferentes setores econômicos se desenvolveram ao longo do Rio Loing. Os mais comuns eram os moinhos de trigo, moinhos que trituravam o carvalho da Floresta de Fontainebleau, usados no curtimento de couros, moinhos à “Foulon”, usado para desengordurar a lã, ou seja, para tratar as peles que seriam usadas pelos produtores de luvas e outros fabricantes de vestimentas.
As duas fotos acima mostram o antigo Moinho Provencher, atualmente Museu do Sucre d’orge (Bala de cevada). Esse moinho foi usado no início na preparação do couro para a produção de luvas; em seguida foi moinho de trigo. Foi destruído durante a ocupação alemã, reconstruído e, depois, transformado em museu. (Foto @visitasguiadasemparis)
À direita temos o Moinho Graciot. Datado do século XIV esse moinho foi muito utilizado na manufatura do couro. Hoje é um local dedicado à escultura. (Foto @visitasguiadasemparis)
A destruição de uma parte da ponte pelas tropas alemãs em 1944 marcou o fim da presença dos moinhos em Moret-sur-Loing. As lembranças desses moinhos nós temos através das telas de Alfred Sisley.
Se você caminhar às margens do Loing, você vai ainda encontrar o charmoso pequeno porto fluvial com belas embarcações atracadas. Vai cruzar com artistas pintando ao ar livre como fazia Alfred Sisley no século XIX, vai ainda se maravilhar com tanta vida como os gansos e os cisnes.
Sentar-se às margens do Loing e apreciar a vista é algo que vale a pena!! content here (Foto @visitasguiadasemparis)
Apreciar os belos cisnes que se deliciam nessas águas tranquilas é espetacular (Foto @visitasguiadasemparis)
Apreciar os lindos patinhos e os gansos que se deliciam nessas águas tranquilas é espetacular (Foto @visitasguiadasemparis)
(Foto @visitasguiadasemparis)
(Foto @visitasguiadasemparis)
Mansões de luxo às margens do Loing (Foto @visitasguiadasemparis)
Barcos ancorados na marina de Moret-sur-Loing (Foto @visitasguiadasemparis)
Nossa aventura em Moret-sur-Loing não termina por aqui.
Veja o vídeo no meu canal Youtube que eu preparei para vocês sobre esse charmoso vilarejo.
Quer visitar Moret-sur-Loing? Entre em contato conosco que organizamos tudo para você.
Texto: Andréa R. S. Faugeras
Fotos: François Faugeras para @visitasguiadasemparis
A produção desse artigo foi possível graças à nossa visita de estudos feita ao vilarejo de Moret-sur-Loing e também graças às pesquisas em materiais publicitários recolhidos na secretaria de turismo da cidade e em diferentes sites.
Alguns sites visitados:
http://www.zevisit.com/tourisme/moret-sur-loing/la-facade-francois-1er)
https://archives.seine-et-marne.fr/alfred-sisley-1839-1899
https://www.salutbyebye.com/moret-sur-loing/
https://archives.seine-et-marne.fr/library/Patrimoines_Donjon-de-Moret-pdf
https://archives.seine-et-marne.fr/export/print/donjon-de-moret?
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